Faltando seis meses para a aplicação do Enem 2022, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) não informou como vai reunir um número suficiente de questões para a prova, conforme indica o processo de elaboração.
Documentos internos obtidos pelo UOL mostram que não há itens inéditos e pré-testados em quantidade suficiente para a produção de duas provas —uma para edição regular do exame e outra para o chamado Enem PPL (para Pessoas Privadas de Liberdade). Cada exame é composto por 180 questões, e cada uma delas deve ter a sua dificuldade determinada segundo o modelo de TRI (Teoria de Resposta ao Item), que leva em consideração, por exemplo, o porcentual de acertos da questão.
Os pré-testes são importantes para medir essa dificuldade e deixar que as provas aplicadas no mesmo ano não fiquem muito diferentes uma das outras. Ter itens não testados pode gerar divergências entre os resultados. Por exemplo: um aluno pode acertar a prova inteira da edição regular e tirar 900, enquanto outro, que realizou a reaplicação, acerta tudo e fica com 850 —por causa dos ‘valores’ de cada item.
O Enem, considerado a principal porta de entrada ao ensino superior, está marcado para os dias 13 e 20 de novembro. Desde o início do ano passado, servidores do instituto têm alertado para a falta de questões inéditas e testadas para produzir o Enem. Em novembro do ano passado, um plano de ação indicava a aplicação de um pré-teste marcado para março de 2022.
A ideia, segundo o documento ao qual a reportagem teve acesso, era testar itens em um universo de 88 mil estudantes com o mesmo perfil do público do Enem. O plano, no entanto, não seguiu como esperado. Dos 88 mil participantes previstos, o Inep fechou a aplicação do pré-teste para 30 mil. Destes, apenas 8,7 mil se inscreveram e menos de 5 mil realizaram, de fato, a avaliação.
O Inep esperava testar 26 cadernos com perguntas, mas foi possível utilizar apenas sete. “Essa medida [teste de março] não supre a necessidade de realização de mais pré-testes no ano corrente para que haja disponibilidade de itens para a produção dos instrumentos do Enem a serem aplicados no biênio 2022/2023”, diz um outro documento da área técnica.
Dias depois da publicação dos documentos, um grupo de gestores nomeados pelo presidente do Inep, Danilo Dupas, sugeriu repetir questões utilizadas em edições anteriores no Enem 2022. A proposta foi revelada pelo UOL, mas após a repercussão o instituto voltou atrás. A reportagem questionou o Inep na última segunda-feira (9) sobre o planejamento da prova. O instituto se limitou a responder que as provas serão “compostas exclusivamente por itens inéditos”. Mas não esclareceu se todas as questões inéditas foram pré-testadas ou se haverá mais testes antes do exame.
Fonte: UOL Educação