Temperaturas cada vez mais altas, causadas pelas mudanças climáticas: impacto na saúde mental — Foto: ArmbrustAnna para Pixabay

Tenho escrito com frequência sobre como as mudanças climáticas – e, principalmente, as ondas de calor cada vez mais comuns – têm forte impacto na população mais velha. O tema também está na mira dos profissionais da saúde mental: “How heat affects the mind” (“Como o calor afeta a mente”) é a capa da edição de junho da revista “Monitor on Psychology”, da American Psychological Association. É verão no Hemisfério Norte e temperaturas rondando os 40 graus persistem por dias. O pior é que, ano após ano, os recordes são batidos e o mundo vai virando uma fornalha.

Os riscos para a saúde física são bem conhecidos, como desidratação e acidentes vasculares cerebrais (derrames), mas as consequências psicológicas não estavam na berlinda. São estados de irritabilidade a impulsividade, passando por problemas de concentração.

Quando o corpo perde água e sais minerais através do suor, há o risco de uma condição chamada exaustão térmica, caracterizada por tontura, desmaio e pulsação acelerada, que, se não for tratada, pode causar um derrame – quando nosso “sistema de resfriamento” entra em colapso. Um estudo norte-americano constatou que havia um crescimento de 8% de emergências psiquiátricas em dias mais quentes.

Para idosos, a situação é ainda mais preocupante. Uma revisão sistemática de estudos, conduzida pela University of Adelaide School of Public Health (Austrália), apontou um aumento de 2,2% de mortalidade relacionada à saúde mental e de 0,9% de transtornos mentais para cada 1,8 grau Fahrenreit de acréscimo na temperatura ambiente. Os moradores de áreas tropicas e subtropicais acima dos 65 anos eram desproporcionalmente afetados.

Idosos são os mais afetados pelo aumento da temperatura, capaz de provocar um quadro de exaustão térmica — Foto: Graphixmade para Pixabay

Embora seja difícil isolar o efeito da temperatura como gatilho para um determinado tipo de comportamento, a revista cita trabalho que indica que a exposição ao calor potencializa a impulsividade, o que é agravado pelo ambiente urbano, com menos áreas verdes.

Um levantamento realizado em Boston, em 2016, mostrou o impacto na cognição: 44 alunos foram monitorados durante 12 dias escaldantes, sendo que metade morava em imóveis com ar-condicionado. Pela manhã, todos eram submetidos a testes cognitivos e faziam operações simples, de adição e subtração. Os que viviam em lares sem refrigeração levavam um tempo 13% maior para completar as tarefas.

Pobreza e vulnerabilidade andam juntas. Portanto, a mitigação do calor terá que se transformar em política pública, o que inclui de planejamento urbano, com mais áreas verdes, a programas para proteger a população de rua.

Por g1.globo

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