Foto: Reprodução/Blog Pedrão

Se os guerreiros medievais ostentavam armaduras, eles se vestiram com o gibão, a perneira, o colete e o chapéu de couro, as indumentárias do exercício diário de trabalho dos vaqueiros. Dos 39 voluntários que partiram no final de 1822 da cidade de Pedrão, no nordeste da Bahia, sob o comando do Frei José Maria do Sacramento Brayner, para lutar pela Independência no estado, todos retornaram para casa.

O professor e historiador Ricardo Carvalho defende que “os Encourados de Pedrão mostram a luta do homem mais ao sertão da Bahia que marchou e se aliou às tropas sediadas em Cachoeira para lutar contra os portugueses. Foram pouco menos de 40, falavam em 39, mas que tiveram um papel significativo”.

Para o historiador, “o grupo cumpriu uma função excepcional nas batalhas, “menos quantitativa e mais qualitativa”, porque aceitou a convocação em um momento crítico da luta pela Independência do Brasil, na Bahia. O processo que levou ao alistamento de voluntários para a formação de batalhões patrióticos revelava um instante difícil para os apoiadores de Independência. Parte deles havia deixado Salvador, expulsos pelos portugueses, e buscou apoio da Junta de Cachoeira, no Recôncavo, em outubro de 1822.

Velho conhecido dos combatentes pela Independência, o frei Brayner assumiu o compromisso de recrutar homens da região Nordeste do estado para ampliar a frente de batalha brasileira. Apesar de religioso, ele já havia combatido na Revolução Pernambucana de 1817 e ficado preso por quatro anos em Salvador.

Na época, os pedidos de reforços seguiram para todas as freguesias da Bahia. Vilas e cidades do interior onde haviam vaqueiros, homens acostumados a lidar com os animais em condições extremas impostas pela seca, e até agricultores foram chamados à luta. Foi neste momento que as famílias mais tradicionais do interior passaram a se envolver diretamente na batalha pela Independência do Brasil, engrossando as fileiras de combate.

Já na região Nordeste, o frei Brayner convocou os vaqueiros mais habilidosos da região, homens que dominavam o trânsito em mata fechada por longos períodos de cavalgada pela caatinga. Este grupo se aliou a outros que organizaram a retomada de Salvador, cercando a capital por terra, enquanto outros atuavam na Baía de Todos os Santos, impedindo a entrada de armas e alimentos que poderiam suprir as tropas portuguesas.

Segundo Ricardo Carvalho, os vaqueiros “representam essa integração de territórios baianos além do Recôncavo, além de Salvador e além da Baía de Todos-os-Santos. Eles vieram da cidade de Pedrão e isso cria esse sentimento, essa representatividade dessa integração do estado, da província da Bahia na luta contra os portugueses”.

Nessa época, Pedrão ainda não tinha status de município, era um distrito de Irará. Além de identidade própria para o povoado, o grupo de cavaleiros encouraçados, vitorioso nas batalhas da Independência, também entraria para a história ostentando outros nomes: “Voluntários de Pedrão”, “Guerrilha Imperial dos Voluntários de Pedrão” e “Companhia de Cavalaria de Couraças”.

Fonte: Bahia.ba

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