Foto: Reprodução/Romildo de Jesus

Tudo começa despretensiosamente: ao ver alguém fumando, a curiosidade vem à tona e quem que nunca fumou, aceita um cigarro para experimentar ‘a sensação’. O que o ‘curioso’ não sabe é que essa experiência pode ser a primeira de muitas tragadas e a porta de entrada para  um dos vícios mais difíceis de se livrar entre as drogas legais utilizadas no mundo. Doença crônica e epidêmica causada pela dependência à nicotina, o tabagismo é enquadrado pela Organização Mundial de Saúde no grupo de transtornos mentais e de comportamento.

Em todo o mundo, há 1,25 bilhão de adultos usuários de tabaco, de acordo com as últimas estimativas do relatório de tendências de tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS).  No Brasil, uma pesquisa do Ministério da Saúde feita em 2023, por meio de sua Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), indicou que 11.8% dos homens e 6.7% das mulheres fumavam, o que representa cerca de 9% da população.

Para evitar o primeiro trago, e, consequentemente os  males do tabagismo, os poderes públicos e entidades tem feito campanhas de conscientização, além de trabalho árduo de combate ao vício. Uma dessas campanhas é marcada pelo Dia Mundial Sem Tabaco, todo 31 de maio.

A Bahia e Salvador estão em posições de destaque no baixo índice de tabagismo, mas a meta é diminuir ainda mais. No estado, o  uso de derivados do tabaco é feito por 9,7% das pessoas acima de 18 anos, sendo o estado com o segundo menor índice do país.  Na área da saúde, o tema é tratado pelo Programa de Controle do Tabagismo na Bahia (PNCT/BA).

Já Salvador é uma das cinco cidades brasileiras com menor índice de fumantes entre pessoas com idade igual ou acima dos 18 anos, com 5,4% da população.  A capital baiana só fica atrás de Teresina (4,4%), Aracaju (4,7%), São Luíz (4,8%) e Manaus (5,2%).  Os dados são do estudo do Ministério da Saúde sobre o tema, o Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2019).

“O tabagismo não causa só o câncer de pulmão, mas leva à destruição dos dentes, lesões de orofaringe, enfisema [doença pulmonar obstrutiva crônica], hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral [AVC] ou derrame. Ele causa uma quantidade enorme de outras doenças que elevam esses valores significativos de gastos do setor público diretamente, tratando as pessoas, e indiretos, como perda de produtividade, de previdência, com aposentadorias precoces por conta disso, e assim por diante”, afirmou o especialista da Fundação do Câncer, Alfredo Scaff.

Gastos com doenças provocadas tabagismo no Brasil chegam a R$125 bi e podem aumentar

Apesar do número no Brasil apresentar uma redução vista como animadora – em 15 anos, a porcentagem de adultos fumantes no país caiu de 15.7% para 9.1% – a realidade ainda é preocupante principalmente devido aos danos que o tabagismo vem causando na saúde dos brasileiros e nos gastos públicos.

Estudos feitos por pesquisadores da Fundação do Câncer apontam que o tabagismo responde por 80% das mortes por câncer de pulmão em homens e mulheres no Brasil. Para este ano de 2024, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima o surgimento no Brasil de 14 mil casos da doença em mulheres e 18 mil em homens.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil emprega anualmente cerca de R$ 125 bilhões para tratar as doenças e incapacitações provocadas pelo tabagismo. Só o câncer de pulmão representa gastos de cerca de R$ 9 bilhões por ano, que envolvem custos diretos com tratamento, perda de produtividade e cuidados com os pacientes.

Dados podem aumentar – A Fundação do Câncer aponta que, se o padrão de comportamento do tabagismo se mantiver, haverá aumento de mais de 65% na incidência da doença e 74% na mortalidade por câncer de pulmão até 2040, em comparação com 2022.

O trabalho revela também que muitos pacientes, quando procuram tratamento, já apresentam estágio avançado da doença. Isso ocorre tanto na população masculina (63,1%), como na feminina (63,9%). Esse padrão se repete em todas as regiões brasileiras.

 “O câncer de pulmão tem uma relação direta com o hábito do tabagismo. A gente pode dizer que, tecnicamente, é o responsável hoje pela grande maioria dos cânceres que a gente tem no mundo, e no Brasil, em particular.”, afirma Alfredo Scaff, consultor médico da Fundação.

Fonte: Tribuna da Bahia Online

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