Foto: Reprodução/Agência Brasil

Embora tenha existido grande mobilização recente em torno da vacina contra a Covid-19, a imunização infantil vem caindo de forma vertiginosa no Brasil e hoje se encontra nos níveis mais baixos dos últimos 30 anos. Em 2021, cerca de 60% das crianças foram vacinadas contra a hepatite B, o tétano, a difteria e a coqueluche. Contra a tuberculose e a paralisia infantil, foram cerca de 70%, já contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, o índice não chegou a 75%. Para que exista a proteção coletiva contra essas doenças e o Brasil fique blindado contra os riscos trazidos por elas, o recomendável é que entre 90% e 95% das crianças, no mínimo, estejam imunizadas.

A queda generalizada começou em 2015 e atingiu a pior marca em 2021. Antes, não era percebida uma grande resistência à vacinação. Diante deste quadro, médicos das áreas de pediatria, infectologia, epidemiologia e saúde coletiva temem que, se esse quadro de baixa vacinação for mantido, o país poderá assistir a novas catástrofes sanitárias, com o ressurgimento de epidemias que eram comuns no passado.

Consequências

A redução da vacinação, no entanto, pode causar diversas consequências, isso porque doenças como a meningite e a caxumba, podem causar surdez, enquanto o sarampo pode retardar o crescimento e reduzir a capacidade mental. Já a difteria pode levar os rins à falência. A coqueluche pode provocar lesões cerebrais. A preocupação se estende também, porque quando a mulher contrai a rubéola na gravidez, o bebê pode nascer com glaucoma, catarata e deformação cardíaca, entre outros problemas, além do risco de aborto.

Em 2016, o Brasil ganhou da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) o certificado de território livre do sarampo. Naquele momento, o país vinha registrando um ou outro caso importado da doença. No entanto, logo em seguida, o sarampo voltou com força total. Entre 2018 e 2021, o Brasil contabilizou mais de 40 mil doentes, dos quais 40 morreram. A Opas acabou retirando o certificado em 2019.

Outra face do problema é o prejuízo dos cofres públicos e a perturbação da logística vacinal: diante da baixa procura, muitas vacinas são descartadas porque alcançam o prazo de validade sem terem sido aplicadas.

No início deste mês, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal viu-se obrigada a momentaneamente ampliar a faixa etária da vacina contra o HPV, vírus que causa o câncer de colo de útero, para que os frascos não fossem para o lixo. Pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), devem vacinar-se apenas meninas de 9 a 14 anos e meninos de 9 a 11 anos. O Distrito Federal ampliou a faixa feminina para 45 anos e a masculina, para 26. Só assim, às vésperas de vencer, o estoque desencalhou.

Causas

Os especialistas apontam diversas causas para a queda da imunização infantil. Uma delas é, o próprio sucesso da vacinação em massa na fase anterior. O PNI foi criado pelo Ministério da Saúde em 1973 e logo se tornou referência internacional. Graças a ele, muitas doenças praticamente sumiram do Brasil. A paralisia infantil, especificamente, desapareceu por completo. O último caso no território nacional foi registrado em 1989, na Paraíba.

Com o sucesso das campanhas, os pais mais jovens não testemunharam as epidemias, sequelas e mortes tão comuns em outros tempos e podem ficar com a sensação de que essas enfermidades são inofensivas ou simplesmente não existem mais. Seria, portanto, perda de tempo vacinar os filhos. No entanto, é uma sensação falsa, porque as doenças podem aparecer a qualquer momento. Na Venezuela, por exemplo, vem sendo registrado vários casos de difteria nos últimos anos, enquanto a paralisia infantil acaba de ressurgir em Israel, que havia passado mais de 30 anos livre da enfermidade.

Outro motivo da baixa cobertura vacinal são os horários limitados de funcionamento de muitos postos de saúde, que normalmente ficam abertos apenas de segunda à sexta-feira, no horário comercial. Isso impede que pais que trabalham o dia todo levem os filhos para se vacinar.

Os especialistas também citam a falta de campanhas educativas nos meios de comunicação. Eles lamentam que tenham ficado para trás os tempos em que o Zé Gotinha, personagem criado em 1986, era figurinha fácil nas TVs, nos jornais e nas revistas. Primeiramente voltado à prevenção da paralisia infantil, o mascote serviu depois, com sucesso, a outras campanhas.

Os médicos dizem que a pandemia da covid-19 também prejudicou a vacinação infantil. Em primeiro lugar, porque boa parte da população praticou o distanciamento social e evitou sair de casa nos primeiros momentos da emergência sanitária. Diversos pais, assim, acharam mais prudente não levar os filhos aos postos de saúde, onde as famílias poderiam estar expostas ao coronavírus.

Em segundo lugar, porque os postos e hospitais direcionaram suas energias ao diagnóstico e tratamento das pessoas infectadas com a covid-19, deixando a vacinação de rotina em segundo plano. Em terceiro lugar, porque a pandemia trouxe consigo uma avalanche de notícias falsas e informações distorcidas a respeito das recém-criadas vacinas contra o vírus da covid-19, o que acabou por minar a credibilidade de todas as demais vacinas.

Fonte: Agência Senado/Muita Informação

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